04
out
2018
Trigo: momento de monitorar as doenças de espiga

A safra de trigo entra na reta final na Região Sul, momento que pode definir os resultados da lavoura, com produtores em alerta para as variações climáticas da primavera. A fase de espigamento aumenta a sensibilidade das plantas, com maior risco para doenças de espiga e problemas na pré-colheita.  O tema “Proteção de Plantas” foi discutido durante o 5º módulo da capacitação Embrapa e Sistema OCB (Organização das Cooperativas do Brasil), realizado de 25 a 27/09, na Embrapa Trigo, em Passo Fundo, RS.
 
Um dos principais obstáculos à alta produtividade de trigo na Região Sul do Brasil é a ocorrência de um grande número de doenças de origem fúngica, favorecidas pelo clima subtropical úmido, com primavera quente e chuvosa que, geralmente, coincide com o espigamento das plantas na lavoura. Doenças de difícil controle, como a giberela e a brusone, deixam produtores e assistência técnica em alerta para prevenir danos no momento que pode definir a produtividade e a qualidade das lavouras.
 
No Paraná, o trigo está em fase de maturação, com 60% das lavouras apresentando o chamado “grãos leitoso” (Deral, set2018). De forma geral, o risco de doenças de espiga já passou, principalmente com a brusone que costuma atacar nas regiões mais quentes. “O trigo sofreu muito com a seca ainda na implantação da lavoura. A falta de chuva também exigiu grande esforço no controle de insetos, que afetaram o desenvolvimento inicial”, conta o engenheiro agrônomo Luciano Scheibel, do departamento técnico da Frísia, cooperativa com sede em Carambeí, PR. “As colheitas começaram agora na região de Ponta Grossa, mas a expectativa é chegar aos 4 mil quilos de trigo por hectare na média entre os cooperados”, conta Scheibel.
 
No Rio Grande do Sul, 27% das lavouras de trigo entraram na fase do espigamento (Emater/RS, set2018). Com a elevação das temperaturas e maior ocorrência de chuvas, existe o risco do trigo ser contaminado pelo fungo causador da giberela desde o espigamento até a fase final de enchimento de grãos.  Para minimizar os danos com giberela, a pesquisadora Maria Imaculada Pontes Moreira Lima recomenda acompanhar diariamente as previsões climáticas: “A ocorrência de giberela depende de precipitações pluviais elevadas, ou seja, dias consecutivos de chuva. Temperaturas entre 20 e 24ºC, típicas de primavera, deixam a porta aberta para a doença”, alerta a pesquisadora, lembrando que o controle com o uso de fungicidas não tem eficiência por completo, resolvendo em 50 a 70% no combate ao fungo em aplicações preventivas. “Se chover logo após a aplicação, a chuva lava o defensivo e deixa o trigo desprotegido novamente”, diz Imaculada. 
 
Controle no momento certo
 
A principal dúvida dos profissionais no campo é quanto ao controle das doenças no momento certo. Para o pesquisador João Leodato Nunes Maciel, acompanhar o clima é o ponto de partida para o monitoramento de doenças, já que a combinação de temperatura e umidade são determinantes para ocorrer a infecção. “É preciso entender que não estamos falando apenas ao volume das precipitações, mas relacionando a umidade ao período de molhamento da planta, ou seja, o tempo em que as espigas ficam molhadas, favorecendo a instalação dos fungos”, esclarece Maciel, lembrando que este é um dos motivos para a não recomendação das aplicações calendarizadas de fungicidas que podem ser realizadas antes do fungo atacar ou depois do dano acontecer.
 
Para ajudar na tomada de decisão sobre o adequado uso de fungicidas, a Embrapa Trigo e a Universidade de Passo Fundo desenvolveram o SISALERT (Sistema de previsão de risco de epidemias de doenças de plantas), uma plataforma que coleta dados meteorológicos de curto prazo para simular o risco de epidemias de brusone e de giberela no trigo, a partir de informações inseridas pelo usuário, como local e data de espigamento da lavoura. O acesso é gratuito através do site www.sisalert.com.br.
 
Germinação na espiga
 
O final do ciclo do trigo também é afetado pelo risco de chuva na colheita que pode resultar na germinação dos grãos ainda na espiga. Este fenômeno é mais frequente nas regiões mais quentes, onde as temperaturas elevadas diminuem a dormência dos grãos. Além de diminuir o rendimento, a germinação afeta diretamente o PH do trigo, reduzindo a qualidade tecnológica e o valor comercial dos grãos.
 
Segundo o pesquisador João Leonardo Pires, muitas coisas estão envolvidas com o processo da germinação pré-colheita em trigo. Começando com a suscetibilidade genética da cultivar, passando pela morfologia e estrutura da espiga, pelo estágio de maturação da lavoura e, finalmente, pelas condições de ambiente. Porém, acima de tudo, está o controle fisiológico associado com a dormência (período que as sementes, ainda que sob condições ótimas de temperatura, de umidade e de luz, não germinam). Todavia, as condições de ambiente, particularmente de temperatura, durante a fase de enchimento de grão, exercem uma forte influência na duração do período de dormência. Portanto, a interação entre as características genéticas das cultivares e as condições de ambiente, principalmente meteorológicas, é que define a ocorrência ou não e a magnitude do problema de germinação pré-colheita em trigo.
 
A recomendação do pesquisador Eduardo Caierão, é escolher cultivares mais tolerantes à germinação pré-colheita e às doenças relacionadas ao clima, além de escalonar a semeadura, observando sempre o zoneamento agrícola que estabelece as épocas de semeadura com menor risco para cada município. Mas a recomendação só é válida na implantação da lavoura, a partir de agora o produtor precisa monitorar o desenvolvimento da lavoura, o risco de doenças e acompanhar as previsões climáticas até a colheita. “Em caso de previsão de excesso de chuva próximo à colheita, a antecipação da operação, levando em consideração os aspectos fisiológicos da planta, é uma das estratégias para evitar a germinação pré-colheita. Por vezes, vale a pena colher o trigo com maior umidade ao invés da lavoura ficar sujeita a mais chuvas na maturação. Entretanto, é preciso considerar as questões práticas da colheita, como a debulha mecânica, e os custos da secagem dos grãos. O produtor deve avaliar em faixas de lavoura se o trigo já pode realmente ser colhido e considerar a relação custo/benefício da antecipação”, alerta Eduardo Caierão. Ainda, mediante ocorrência de germinação pré-colheita, a recomendação é separar os grãos germinados dos não germinados para evitar a desqualificação de todo o lote colhido.

Fonte: Agrolink

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