07
jul
2020
Novos cenários e desafios na pesquisa de qualidade de semente de soja

O pesquisador da Embrapa Soja e vice-presidente da Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes (ABRATES), Fernando Augusto Hennig, participou, no dia 1º de Julho, de uma live organizada pelo Núcleo de Sementes (NESem) da Universidade Federal de Lavras (UFLA) onde abordou os novos cenários e desafios na pesquisa em qualidade de semente de soja. O momento inovou no formato de lives que o NESem vem promovendo, ao propor um bate papo com os participantes, fomentando o diálogo e as interações com o público  durante todo o tempo.

A necessidade de diálogo e intercâmbio entre os profissionais do cenário sementeiro é a principal bandeira levantada pelo vice-presidente da ABRATES para que a pesquisa possa buscar soluções para os problemas reais enfrentados no dia a dia do produtor e do mercado. Da mesma forma, defende que este seria o caminho para que produtores, sementeiros e todos os elos da cadeia produtiva tenham acesso rápido – e de forma clara e objetiva – às tecnologias desenvolvidas pelas instituições de pesquisa.

Para Fernando Henning, somente com a troca de informações, coleta e análise dos dados é que se pode responder ao desafio atual. “Como que a gente pode olhar para a questão da qualidade de sementes de soja e trazer um diferencial além do que já vem sendo desenvolvido na Embrapa Soja, mas também por toda essa massa crítica que temos no nosso país – que une as universidades, empresas privadas e institutos de pesquisa – para tentar melhorar a qualidade da semente de soja?”.

Foi justamente com o objetivo de gerar um grande volume de dados e permitir uma análise completa das safras de soja no país que a da Embrapa Soja, em parceria com diversas instituições, desenvolveu o projeto Qualigrãos. O estudo, que acompanhou as safras de 2014/15 a 2017/18, foi realizado em dez estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Bahia e Tocantins, que juntos somam aproximadamente 93% da produção nacional.

“Nós conseguimos gerar a informação, trabalhamos com ela e num curto espaço de tempo conseguimos levar a informação ao produtor, às cooperativas e aos parceiros do projeto e isso é muito importante. Eu diria que é por aí que começam as nossas hipóteses, por aí que a gente conhece… onde estão os nossos gargalos”.

A surpresa foi perceber que um aspecto básico como o dano mecânico destacou-se como um dos principais desafios. Esta informação serviu como alerta para que se orientasse os produtores a tomar os devidos cuidados, principalmente com a umidade das sementes durante a colheita, assim como a correta regulagem das máquinas. Outro ponto a se considerar é o ajuste fitotécnico das cultivares na região de cultivo, compreender as suas particularidades e assim definir a melhor densidade de semeadura, a interação com as condições edafoclimáticas e aspectos relacionados a plantabilidade. São detalhes relevantes que parecem pouco observados na prática do dia a dia.

“A gente se preocupa tanto em ter algo para solucionar um problema que seja super complexo, mas e o básico, estamos fazendo bem? Com certeza a gente está perdendo dinheiro ou deixando de produzir qualidade por hectare aqui no nosso país, que é um exemplo no controle de qualidade para um país tropical, mas com coisas básicas a gente continua errando”, analisa.

O próprio Tratamento de Sementes, usado desde a década de 80, no qual o Brasil é destaque mundial na aplicação, ainda pode gerar confusão e maus usos no campo. Fernando Henning alerta que esta tecnologia não deve ser utilizada para evitar que se tenha problemas de fungos durante a armazenagem. “Não podemos arriscar perder eficiência de uma tecnologia devido ao mau uso e nem mesmo expor a semente de soja a período longo de contato com os produtos utilizados no tratamento”. Tratamento de sementes é uma técnica útil para o momento pré-semeadura, que visa erradicar patógenos que possam ser transmitidos via sementes e proteger contra fungos de solo.

Com os dados coletados durante o Qualigrãos, os pesquisadores identificaram os principais gargalos para o setor, dando origem a um novo projeto, o SeedSoy, que busca aprofundar os estudos nos seguintes pontos:

  • Sensibilidade dos genótipos à deterioração em pré-colheita;
  • Incidência de sementes verdes;
  • Armazenagem (manutenção da qualidade e ataque de insetos);
  • Novos desafios.

Pensando em qualidade sanitária, precisamos investir no desenvolvimento e validação de métodos rápidos  e confiáveis, que tenham aplicabilidade para que se possa ter essa resposta. “Hoje a gente tem ferramentas da biologia molecular, como uso de marcadores moleculares, os quais podem ser utilizados em análise sanitária, mas que o setor ainda não domina. Mas para isso, precisamos trabalhar para aferir e gerar mais informações e marcadores, assim como treinar pessoas para executar tal análise”.

Outro alerta mira no sistema de controle de qualidade de sementes, com foco na mistura varietal que se observou em níveis preocupantes nas safras analisadas no Qualigrãos. Como exemplo, o pesquisador cita o sistema morfo-molecular adotado pela Argentina que, além de utilizar caracteres morfológicos também utiliza marcadores moleculares de DNA que permitem a diferenciação das variedades.

A questão do uso de marcadores também possibilita equalizar a cobrança do obtentor para o consumidor final, importante no combate à pirataria de sementes, por exemplo. E também permite o caminho contrário: que o consumidor cobre do obtentor uma tecnologia que foi supostamente adquirida. “O uso do marcador protege o produtor e o consumidor. Temos que pensar que isso é uma via de duas mãos e que vai melhorar a qualidade do sistema produtivo em geral”, afirma.

E assim, o pesquisador da Embrapa Soja e vice-presidente da ABRATES, Fernando Henning, incentiva profissionais e estudantes da pesquisa agro para um novo olhar sobre as questões já existentes e para irmos além na busca por soluções. “Se conectem com o que está ocorrendo e não tenham medo de ousar, de ser pioneiros. Nós vamos errar? Vamos. Muito… Mas a gente não pode ter medo. Não se desconectem de outras coisas que não abordamos aqui, mas que é importante falar. Como, por exemplo, a questão de edição gênica, que é uma ferramenta poderosa… Fiquem atentos a estas tecnologias como a CRISP e RNAi, que na área de sementes tem um potencial tremendo”. Confira a live na íntegra no canal da ABRATES no YouTube!

Fonte: Mais Soja

Volte para a Listagem